quinta-feira, 21 de junho de 2012

OS ÍNDIOS CALVINISTAS

DO BRASIL HOLANDÊS

 


Foram os holandeses que trouxeram para o Brasil a Igreja Calvinista  cujo nome oficial era Igreja Cristã Reformada . No Brasil Holandês ( 1630 – 1654 ) esta igreja  realizou uma intensa obra missionária, especialmente entre os índios  ( chamados de “brasilianos” pelos holandeses ).

Alguns dos índigenas  que anteriormente  haviam embarcado para a Holanda retornaram para servirem como intérpretes dos missionários calvinistas  junto aos índios  do Nordeste brasileiro .

Passaram  cinco anos na Europa, e após aprenderem a ler e escrever, estes índios ( entre eles, Pedro Poti ) foram os primeiros missionários protestantes brasileiros.

O trabalho missionário envolvia a evangelização  e a educação dos indígenas . Uma escola foi organizada próximo à aldeia de Nassau e dois "brasilianos", educados pelos holandeses, tornaram-se professores:os índios  João Gonsalves e Melchior Francisco.

O próprio governo holandês pagava o salário de 12 florins mensais aos professores-índios, o correspondente ao soldo de um cabo do exército.

O primeiro pastor dessa igreja a se dedicar à evangelização dos nativos  ,foi Vincentius Joaquimus Soler que inicialmente  pregou na aldeia Nassau, no Recife (atual Bairro das Graças) e somente mais tarde, a pedido dos nativos da capitania da Paraíba, dedicou-se à evangelização dos índios propriamente dita .

David Doreslaer, cujo trabalho iniciou-se em 1638,  foi o primeiro pastor missionário em tempo integral ,  entre os nativos do Brasil.

O trabalho missionário dos calvinistas holandeses cresceu  a ponto de, em 1641, ser celebrada a primeira Ceia do Senhor na aldeia do cacique Pedro Poti.


Quando Pedro Poti , em 1645 foi eleito governador dos índios da Paraíba, seu primo Antonio Paraupaba também calvinista , foi simultânemente  escolhido  para o mesmo cargo no vizinho Rio Grande ( do Norte ) .


Mais tarde , em 1649, na Segunda Batalha dos  Guararapes,   aliado dos holandeses  , Pedro Poti foi preso,e lançado num poço onde permanecu por 6 mêses em condições desumanas . Foi  embarcado para Portugal  numa "viagem que não acabou, atalhada da morte."

O índio Antônio Paraupaba, após esta batalha   fugiu e homiziou-se na serra Ibiapaba, no Ceará, com seus comandados .


Várias tribos ( inclusive os ferozes tapuias ) rogavam  que a Igreja Cristã Reformada lhes enviasse pregadores .

Em seu trabalho, os pastores calvinistas ganhavam a confiança dos nativos dando-lhes assistência  material , traduziam partes da Escritura para o tupi, produziam literatura reformada em português e em tupi e formavam  professores -índios (alguns se tornaram “consoladores” ou evangelistas ).
Com a expulsão dos holandeses do Brasil , em 1654  , a Igreja Cristã Reformada também partiu. Os índios convertidos ao protestantismo foram incluídos no “Perdão Geral” promulgado pelos portugueses , mas  , sem acreditar nessa  promessa de  anistia , os índios evangélicos   refugiaram-se na Serra de Ibiapaba (CE) a 750 km do Recife, na divisa entre o Ceará e Piauí .

O padre Antônio Vieira, após  visita à Serra da Ibiapaba,

assim escreveu a respeito :

 "Com a chegada destes novos hóspedes, ficou Ibiapaba verdadeiramente a Genebra (*) de todos os sertões do Brasil, porque muitos dos índios pernambucanos foram nascidos e criados entre os holandeses, sem outro exemplo nem conhecimento da verdadeira religião”.

(*) uma alusão à Genebra de João Calvino .

A influência do ensino religioso havia sido mais profunda do que parecia  à primeira vista. Os padres ficaram perplexos  diante do conhecimento  dos indígenas em  ler e escrever .Sobre a convicção religiosa dos índios refugiados na Serra da Ibiapaba disseram :  "muitos deles eram tão calvinistas e luteranos como se houvessem nascido na Inglaterra ou Alemanha", considerando a igreja romana uma "igreja de moanga"(falsa) .  

Poucos anos depois, entretanto, não restava nada da “Genebra brasileira” pois gradualmente   , seus membros foram novamente submetidos a Roma ou massacrados como hereges . Assim , melancolicamente terminou um dos capítulos iniciais   da história da Igreja Cristã Reformada no Brasil .


Um comentário:

  1. Acrescento ao texto que por décadas sobreviveram alguns elementos da visão calvinista. Segundo viajantes do século XVIII, entre os "habitantes de Ibiapaba, é de uso corrente condenar imagens até de Jesus, sob a alegação de que isto 'fere as Sagradas Escrituras' que proíbem ídolos, pois Deus é imaterial."(ANSON, George, Repport of Terra Brasilis")

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