OS ÍNDIOS CALVINISTAS
DO BRASIL HOLANDÊS
Foram os holandeses que trouxeram para o Brasil a Igreja Calvinista cujo nome oficial era Igreja Cristã Reformada . No Brasil Holandês ( 1630 – 1654 ) esta igreja realizou uma intensa obra missionária, especialmente entre os índios ( chamados de “brasilianos” pelos holandeses ).
Alguns dos índigenas que anteriormente haviam embarcado para a Holanda retornaram para servirem como intérpretes dos missionários calvinistas junto aos índios do Nordeste brasileiro .
Passaram cinco anos na Europa, e após aprenderem a ler e escrever, estes índios ( entre eles, Pedro Poti ) foram os primeiros missionários protestantes brasileiros.
O trabalho missionário envolvia a evangelização e a educação dos indígenas . Uma escola foi organizada próximo à aldeia de Nassau e dois "brasilianos", educados pelos holandeses, tornaram-se professores:os índios João Gonsalves e Melchior Francisco.
O próprio governo holandês pagava o salário de 12 florins mensais aos professores-índios, o correspondente ao soldo de um cabo do exército.
O primeiro pastor dessa igreja a se dedicar à evangelização dos nativos ,foi Vincentius Joaquimus Soler que inicialmente pregou na aldeia Nassau, no Recife (atual Bairro das Graças) e somente mais tarde, a pedido dos nativos da capitania da Paraíba, dedicou-se à evangelização dos índios propriamente dita .
David Doreslaer, cujo trabalho iniciou-se em 1638, foi o primeiro pastor missionário em tempo integral , entre os nativos do Brasil.
O trabalho missionário dos calvinistas holandeses cresceu a ponto de, em 1641, ser celebrada a primeira Ceia do Senhor na aldeia do cacique Pedro Poti.
O índio Antônio Paraupaba, após esta batalha fugiu e homiziou-se na serra Ibiapaba, no Ceará, com seus comandados .
Em seu trabalho, os pastores calvinistas ganhavam a confiança dos nativos dando-lhes assistência material , traduziam partes da Escritura para o tupi, produziam literatura reformada em português e em tupi e formavam professores -índios (alguns se tornaram “consoladores” ou evangelistas ).
Com a expulsão dos holandeses do Brasil , em 1654 , a Igreja Cristã Reformada também partiu. Os índios convertidos ao protestantismo foram incluídos no “Perdão Geral” promulgado pelos portugueses , mas , sem acreditar nessa promessa de anistia , os índios evangélicos refugiaram-se na Serra de Ibiapaba (CE) a 750 km do Recife, na divisa entre o Ceará e Piauí . O padre Antônio Vieira, após visita à Serra da Ibiapaba,
assim escreveu a respeito :
"Com a chegada destes novos hóspedes, ficou Ibiapaba verdadeiramente a Genebra (*) de todos os sertões do Brasil, porque muitos dos índios pernambucanos foram nascidos e criados entre os holandeses, sem outro exemplo nem conhecimento da verdadeira religião”.
(*) uma alusão à Genebra de João Calvino .
A influência do ensino religioso havia sido mais profunda do que parecia à primeira vista. Os padres ficaram perplexos diante do conhecimento dos indígenas em ler e escrever .Sobre a convicção religiosa dos índios refugiados na Serra da Ibiapaba disseram : "muitos deles eram tão calvinistas e luteranos como se houvessem nascido na Inglaterra ou Alemanha", considerando a igreja romana uma "igreja de moanga"(falsa) .
Poucos anos depois, entretanto, não restava nada da “Genebra brasileira” pois gradualmente , seus membros foram novamente submetidos a Roma ou massacrados como hereges . Assim , melancolicamente terminou um dos capítulos iniciais da história da Igreja Cristã Reformada no Brasil .
Acrescento ao texto que por décadas sobreviveram alguns elementos da visão calvinista. Segundo viajantes do século XVIII, entre os "habitantes de Ibiapaba, é de uso corrente condenar imagens até de Jesus, sob a alegação de que isto 'fere as Sagradas Escrituras' que proíbem ídolos, pois Deus é imaterial."(ANSON, George, Repport of Terra Brasilis")
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